segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VARA E CAJADO - SÃO DIFERENTES?

Há opiniões diversas sobre a vara e o cajado, mas muitas, acredito, dentro do mesmo contexto, contudo, algumas, são analisadas minuciosamente. Neste texto a seguir, veremos se há divergências.

Salmo 23. 4: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam".

É óbvio que neste texto estão expressos a segurança que Davi tinha em DEUS, e a coragem que tinha para enfrentar todas as situações que porventura lhe fossem oferecidas. Porém, a última parte do versículo, mostra que Davi estava sendo coordenado por dois instrumentos, os quais DEUS lhe dispunha: a vara e o cajado, e, interessantemente, ele, Davi, se mostra apto ao consolo de DEUS por estes dois instrumentos quando afirma efetivamente isto. Vários são os argumentos que encontramos sob conceitos de cajado e vara. Alguns atribuem ao cajado o conceito de instrumento de autoridade, outros de poder, outros de guia, outros de intrumentos de correção por meio de violência. De fato, um cajado é utilizado por pastores de ovelhas para que seja um auxílio na condução das ovelhas, contudo, as ovelhas sempre o vêem com seu cajado na mão e isto imposta de forma passiva a autoridade sobre o rebanho. É de notar-se, que os cajados possuem uma extremidade arqueada, para que seja utilizado quando algumas ovelhas se desviam da rota de pastagem, então o arco é posto no pescoço ou perna da ovelha e o pastor traciona-a para o caminho por onde devem seguir. Isto é perfeitamente inteligível. Mas, e a vara? Bom, sabemos que a vara é um outro instumento utilizado por pastores, para que, em casos onde algumas ovelhas não obedeçam o caminho ou empaquem, a vara é utilizada de forma violenta para espancar o lombo do animal e assim, fazer com que prossiga o caminho com os demais animais do rebanho. É uma forma de correção, utilizada para as ovelhas mais "rebeldes". Também, é utilizado algumas vezes juntamente com o cajado para por ordem em casos de alvoroço. Portanto, se uma ovelha se empacar no caminho, não adianta utilizar o cajado, pois este é para dar a direção, mas neste caso, a vara é para que a ovelha se mova e prossiga em frente. O pastor acaba por ter os dois instrumentos para conduzir seu rebanho e esta utilização é dada por modos diferentes. Pode ser que uma ovelha, insista em não obedecer o arco do cajado e assim, não retornar para a direção colocada, e neste caso, se torna necessário a utilização também da vara, para que ela se mova para junto do rebanho novamente.

Vejamos o que os dicionários nos informam sobre os dois instrumentos:

Cajado

Segundo o i-dicionário Aulete

sm. 1. Vara, ger. com a ponta superior em arqueada, us. por pastores para tanger o rebanho; 2. P.ext. Vara us. como apoio para o corpo; BORDÃO: Ele agora só caminha com o auxílio de um cajado; 3. Fig. Qualquer coisa que sirva de apoio, sustentação, inclusive espiritual; ARRIMO; ESTEIO [F.: Do lat. tardio caja, pelo lat. vulg. hispn. *cajatus, abrev. da loc. lat. baculus cajatus, 'bastão'.];

Segundo o dicionário Houaiss

substantivo masculino- 1 bordão ('vara') de pastor, caracteristicamente tendo a extremidade superior recurvada em forma de gancho ou semicírculo para permitir puxar as pernas dos animais; 2 Derivação: por extensão de sentido, bordão ('vara') em geral; 3 Derivação: sentido figurado, apoio, esteio, arrimo.

Vara

Segundo i-dicionário Aulete

sf. 1. Ramo delgado de árvore ou de arbusto esp. da vide; HASTE; 2. Pau, viga, bordão, us. para diferentes fins como arrimo em caminhada, para tirar frutos das árvores mais altas etc; 3. Galho ou pedaço de madeira reto, comprido e flexível; 4. Jur. Cada uma das ciscunscrições ou áreas judiciais em que se dividem as comarcas e a que preside um juiz de direito (vara cível; vara criminal); 5. P.ext.Poder, autoridade, jurisdição conferido a uma pessoa; 6. Fig. Açoite, castigo, punição.

Segundo dicionário Houaiss

Susbtantivo feminino - 1 ramo de árvore, fino e flexível; 2 ramo direito e comprido us. para derrubar ou apanhar frutos de ramos altos; 3 peça de madeira, bambu, metal, delgada, roliça e longa; 3.1 peça de madeira roliça us. como arrimo; cajado, bordão; 4 ramo fino us. como açoite,
o próprio castigo; surra dada com vara, Ex.: educação à base de vara; 5 antiga insígnia representando o poder e autoridade dos juízes e vereadores; 6 Derivação: por extensão de sentido, poder e autoridade conferidos a alguém;

Portanto, está mais do que claro que a vara é sim, um instrumento de condução, mas seu emprego é mais radical do que o cajado. O cajado pode ferir gravemente quando aplicado de maneira violenta, enquanto que a vara, é de constituição flexível, justamente para não ferir gravemente, mas por meio da dor que gera, induzir a ovelha a se movimentar e seguir junto ao rebanho. A vara não pode ser utilizada sempre e nem só o cajado. É necessário que os dois estejam juntos, pois há o momento de cada um ser utilizado conforme a condição necessário para que o rebanho seja conduzido. Embora a vara exija o emprego de uma certa violência, também é um instrumento que representa autoridade e poder autonômico.

No caso do Salmo 23.4, Davi, sendo um homem escolhido segundo o coração de DEUS, era também um reconhecedor de que DEUS utiliza estes dois instrumentos em sua vida para o dirigir. Vara vem primeiro do que cajado no versículo, sendo assim, expressão de que muitas vezes, quando passamos pelo vale da sombra da morte, necessitamos de umas varadas para correção e progressão e depois do cajado para a direção.

Não há como só utilizar o cajado ou só utilizar a vara. É necessário a vara e o cajado, simultaneamente.
Aqueles que utilizam somente da vara ou somente do cajado, acabam por sofrerem as consequências da ausência do uso de um em detrimento da utilização exclusiva do outro.

Conclusão

É incompatível administrar um rebanho de ovelhas só utilizando um cajado;

É incompatível administrar um rebanho de ovelhas só utilizando uma vara;

É incompatível utilizar vara como cajado e cajado como vara;

Deve haver a aplicação dos dois instrumentos, dosados conforme a necessidade ocasional, mas devem, simultaneamente, serem utilizados os dois instrumentos;

Este conceito ideológico pode e deve ser aplicado em qualquer esfera onde haja gerenciamento de grupos, seja empresarial, religioso ou educacional ou familiar.