sábado, 18 de dezembro de 2010

A INADMISSIBILIDADE DE SOFRER DE EGOCENTRISMO HIPÓCRITA É EM SI MESMA O REFLEXO HIPÓCRITA DO EGOCENTRISMO

Um ótimo princípio para alguém que talvez não saiba fazer, mas o deseja é acreditar “que se possa fazer”. Indubitavelmente importante este “acreditar” deve estar incluso no aprender, pois, somente assim o fazer se tornará excelente. A cada saber um fazer e a cada fazer um saber. Há intensa tendência em que isto se torne cada vez mais recíproco à medida que é aplicado. Mas, nem todos adotam esta linha de pensamento como um princípio praticável. A razão disto está contida no conceito errôneo do “não querer aprender a fazer”. Ora, quem sabe é porque aprendeu e quem aprendeu é porque, de alguma forma se deixou querer aprender e assim, por consequência, o fazer vem seguidamente.
Talvez, saber seja entendido por uns como meio de sobrevivência, por outros como meio cultural e por outros, ainda, como algo extraordinário ao contexto intelectual. Com efeito, está relacionado ao fazer, pois, saber apenas não basta, mas, saber e fazer são dois pontos que exibem extrema afinidade, especialmente para com aqueles, os quais conseguem administrá-los harmonicamente. Fazer torna-se importante à medida que se sabe. É praticamente inadmissível fazer sem saber. Mas, gratificante mesmo é saber fazer e fazer sabendo. Um velho ditado – “quem sabe faz ao vivo” – é interessantemente considerável. O fato é que estes conceitos citados não acompanham contextualmente a filosofia daqueles que não admitem não saber, querem fazer e ainda acreditam que, se fazem é porque sabem fazer.
Este é alegórico de quem sofre de “egocentrismo hipócrita”. Explica-se conceituando-o como aquele que traz impregnado no ego, o conceito de que contém a capacidade de fazer, sem, contudo, saber. Isto é para estes, lido como “ousadia”, contudo, não passa de uma debilidade, porém, este indivíduo jamais admite portar esta debilidade, usando como máscara a “ousadia”. Esta característica leva este indivíduo a se estender além do natural mediante situações as quais “não possui domínio”, explicitando assim, pelo fato de se autodecretar “ousado”, ser dono da razão. É patognomônico daqueles que, além de carregar consigo esta debilidade, não apresentam plausibilidade em seus argumentos, usando-os mais como uma espécie de comportamento cínico, apresentam justificativas que nunca apontam para si possíveis falhas, mas, quase sempre para aqueles que estão ao seu redor, uma forma também de hedonismo imanente. É a fraqueza da fraqueza e por isto, acaba por não consentir em hipótese nenhuma, como um indivíduo que errou em razão de não saber, por pretextos contidos em sua personalidade egocêntrica, mas discretamente manifestadas. São fracos e, por assim dizer, se tornam hipócritas, criam dentro de si um monolitismo como base de sustentação de sua posição, status, etc. Daí o termo aplicado – egocentrismo hipócrita. Freud classifica o superego como um acusador do ego, o que pode estimulá-lo. Há um domínio psíquico onde o superego impõe ao ego o dever de fazer, mesmo sem saber e nunca admitir que não saiba.
É simplório exemplificar este tipo de situação. Considere dois tipos de lógica: Ocidental – “apenas-ou” – e Oriental – “tanto-quanto”. Ao utilizar uma ou outra, erros podem ser desastrosos em termos de conceitos ideológicos, ainda mais se isto ocorrer com indivíduos que de alguma maneira se tornaram formadores de opinião sem saber sobre o que e como estão opinando. O erro
no juízo e conceitualização da aplicabilidade lógica poderão influenciar uma comunidade, por isto, são inexoravelmente necessários domínio e entendimento perfeitos, primeiro dos conceitos sobre lógica, segundo, de sua melhor aplicabilidade nas diversas situações. Um exemplo prático: 3 + 3 = 6. Não há nenhuma lógica que possa contrariar o resultado desta operação, pois ela se autoafirma verdadeiramente, com absoluta soberania conceitual e racional. Ao aplicar a lógica ocidental, o resultado não é modificado: apenas 3 + 3 = 6 ou 3 x 3 = 9. Pela lógica oriental, tanto 2 + 2 = 4 quanto 2 x 2 = 4. Isto não é uma invenção, é uma lógica racional, e não há como fugir disto. Não que o indivíduo tenha que estudar a ciência “Lógica”, mas que seus argumentos e suas exposições sejam dotados de plausibilidade. Sempre que algo aceitável é alvitrado, dificilmente uma refutação pode derrubá-lo. O fato é que, pelo status, grau de autonomia, título, posição social dentro de uma comunidade, etc., quando não se expõe com plausibilidade, ao se ver acuado o indivíduo que sofre de egocentrismo hipócrita utiliza artifícios de escape, “a ousadia”, em busca de outro argumento menos admissível ainda e que o justifique. Este argumento vem acompanhado da impostação expositiva e de um ou alguns de seus componentes que o elevam no seu grau de autonomia. Assim, certa inibição toma conta dos demais que o cercam. Isto é o reflexo exprimido da imposição de que este indivíduo, para si mesmo, está com a razão, ainda que esteja inteiramente fora dela. Enfim, hipocrisia excessiva que domina o ego, ao ponto de cegá-lo.

Por "Prof. Dr. Dermeval Reis Junior"